Uma das coisas que me fascinam na
medicina é a capacidade de controlar inúmeras variáveis secundárias que afetam
o tratamento do paciente. Por exemplo: um idoso com sepse tem como base de seu tratamento
o uso de antibiótico e estabilização hemodinâmica. No entanto, se ele for
diabético e não tiver sua glicemia controlada, te garanto que sua evolução não
será favorável. É aquela expressão, “ter o paciente na mão” que estou falando!
Por isso, no post de hoje vou colocar uma SUGESTÃO de como poderíamos manter a
glicemia do paciente controlada. Boa leitura!
Mas antes de começar a falar sobre o
tema, nós primeiros precisamos saber quem merece ter sua glicemia controlada,
certo? Pra isso, nós devemos fazer um rastreio de todo paciente que seja
internado e assim classificá-lo entre:
1- DM já diagnosticado / 2- DM sem
diagnóstico / 3- hiperglicemia de estresse / 4- sem DM.
Esse rastreio é
composto de anamnese, glicemia (com ou sem jejum) e hemoglobina glicada. A
anamnese para determinar se o paciente já tem o diagnóstico de DM e a
hemoglobina glicada para diferenciar o paciente que apresenta DM sem
diagnóstico (maior ou igual a 6,5%) ou que apresenta uma hiperglicemia por estresse
(menor que 6,5%).
Caracterizado o paciente, já
podemos iniciar sua folha de prescrição! O primeiro ponto é a dieta... Cada
serviço tem uma forma diferente de trabalho e por isso, não vou aprofundar
muito, mas basicamente há uma equipe de nutrição para te dar suporte ou então a
cozinha do hospital já tem aquela refeição especial para paciente diabético.
Além da dieta é importante determinar o quanto de insulina o paciente deve
receber e pra isso, nós precisamos calcular a Dose Diária Total de Insulina (DDTI).
DDTI = 0,25 a 0,4 U de insulina/Kg
Após calcular a DDTI é preciso
dividir esse valor entre a insulina de ação lenta e a de ação rápida. No caso, irei fazer 50% da DDTI pra insulina de ação lenta (basal) e os outros 50% pra
de ação rápida (prandial). Ficou confuso? Olha só esse exemplo:
Paciente de 70 anos, obeso (100 kg/ 1,68m²) com história de DM tipo 2
em tratamento há 5 anos. Glicemia de jejum 150 mg/dL e HbA1c 7,8%. Sua DDTI é
de 40U por dia. Sendo assim, será feito 20 U de insulina de ação lenta e 20 U
de insulina de ação rápida sendo esta última ainda dividida pelo número de
tomadas ao longo do dia.
Agora que a dose de insulina está
calculada é só usá-la antes de cada refeição e pronto, certo?! NÃO! Existem
dois grandes problemas que esses pacientes podem sofrer... um deles é a
hiperglicemia (mesmo seguindo o protocolo) e o outro é a hipoglicemia!! A
melhor forma de detectar essas complicações é através da monitoração da
glicemia (pelo menos antes de cada refeição).
Seguindo esse protocolo, existem
4 cenários que podem ocorrer após a avaliação da glicemia:
·
Paciente pode estar hipoglicêmico (< 70
mg/dL)
·
Paciente pode estar com glicemia de 71 – 100
mg/dL
·
Paciente pode estar com glicemia de 101 – 140
mg/dL
·
Paciente pode estar com glicemia > 140 mg/dL
Em cada um desses cenários,
teremos formas diferentes de abordar. OBS: A conduta na hipoglicemia, foi publicada recentemente no blog! Só clicar aqui e conferir. Se chegar um paciente
com uma glicemia entre 71 e 100 mg/dL e lhe pedir uma insulina de ação rápida,
você a prescreveria? Pois é! Como nesses casos seria muito arriscado
desenvolver hipoglicemia, não é recomendado administrar a dose prandial para o
paciente. No caso do paciente apresentar uma glicemia de 101 a 140 mg/dL será
feito a dose calculada para a insulina prandial. Por fim, o paciente pode
apresentar uma glicemia maior que 140 mg/dL e nesse caso, deverá ser feita a
correção da dose de insulina. Essa correção pode ser feita através da tabela
que deixo abaixo (adaptada do protocolo seguido no Hospital Quinta D’or).
Correção
da dose de insulina em Unidades
|
|||||
Glicemia
(mg/dL)
|
Escala
para café, almoço, jantar e dieta enteral
|
Para
ceia
|
|||
DDTI
< 40 U ou IMC < 25
|
DDTI 40
a 80 U ou IMC 25 a 30
|
DDTI
> 80 U ou IMC > 30
|
-
|
||
< 70
|
|||||
71 - 100
|
-
|
-
|
-
|
-
|
|
101 -140
|
0
|
0
|
0
|
-
|
|
141 -
180
|
+ 1
|
+ 2
|
+ 3
|
-
|
|
181 -
220
|
+ 2
|
+ 3
|
+ 4
|
-
|
|
221 -
260
|
+ 3
|
+ 4
|
+ 5
|
-
|
|
261 -
300
|
+ 4
|
+ 5
|
+ 6
|
-
|
|
301 -
340
|
+ 5
|
+ 6
|
+ 7
|
-
|
|
> 341
|
+ 6
|
+ 7
|
+ 8
|
-
|
Foi! Sei que são muitos números e
que é chato de pegar, mas assim como qualquer outro protocolo, a rotina e seu uso
contínuo são as melhores formas de aprender e decorar “essas coisas”. Outra
coisa que também acho importante é que todo protocolo serve como um norte para
nos guiarmos e não para nos deixar engessado. O nosso senso crítico deve sempre
ser levado em conta! Espero que tenham gostado e qualquer dúvida, é só colocar
nos comentários abaixo!
Até a próxima!
Nenhum comentário :
Postar um comentário
E aí, vamos aos debates?