Quem não conhece alguém com dor em alguma articulação? Pois é, um dos sintomas mais frequentes na prática médica e que nós, simplesmente passamos um AINE e pronto... ta certo que na maioria das vezes é essa a conduta mesmo! Mas ainda assim nós precisamos saber investigar e olhar além dessa dor. Esse resumo foi feito do Symptom to Diagnosis An Evidence-Based Guide, e contém algumas das mais frequentes causas de dor articular! Boa leitura.
Para avaliar
um paciente com queixa de dor articular deve ser buscado 3 principais
características. (1) Dor articular ou extra articular; (2) dor em uma
articulação ou em várias; (3) dor mecânica ou dor inflamatória. O diagnóstico
diferencial entre as doenças reumatológicas é feito pela avaliação do número de
articulações envolvidas (monoarticular ou poliarticular) e avaliar se ela está
inflamada ou não (pelo exame físico e estudo do líquido sinovial). Entre
as doenças monoarticulares e as poliarticulares, existem as por inflamação e as não inflamatórias.
è Gota
Classicamente
é uma doença que acomete idosos causando dor severa e aguda em hálux. É uma dor
que começa agudamente e com o tempo ela aumenta. No exame físico a articulação
metatarsofalangeana apresenta sinais flogísticos. No exame do líquido sinovial,
vai apresentar cristais de urato de sódio. Gota é uma doença articular
inflamatória, por cristais de urato de sódio, que acomete geralmente a
articulação do primeiro metatarsofalangeana, mas também acomete com frequência
as articulações de MMII e cotovelo. Costuma afetar apenas uma articulação. O
principal fator de risco para gota é a hiperuricemia. Pacientes que ao
ingerirem grande quantidade de proteína, hábitos alcoólicos, uso de fármacos
tiazídicos ou de alça ou/e falência renal podem apresentar piora da dor.
Pacientes com diagnóstico recente de gota deve ser investigado quanto a
alcoolismo, insuficiência renal, desordens mieloproliferativas e hipertensão. Febre,
em 44% dos pacientes, pode estar presente.
Tratamento da
gota é dividido em abortivo e preventivo. Os AINES são usados para como terapia
abortiva. A preventiva é indicada em 5 situações. (a) ataques frequentes, (b)
ataques incapacitantes, (c) nefrolitíase por cristais de urato, (d) nefropatia
por cristais de urato e (e) “Tophus”. As medidas preventivas são farmacológicas
e não farmacológicas. As não farmacológicas são abstinência do álcool, perda de
peso e parar com o uso de drogas que diminuem a excreção de urato (AAS e
diuréticos tiazídicos). As farmacológicas são AINES, Colchicina, Alopurinol e
Probenecida. Geralmente o Alopurinol (competidor com a xantina-oxidase) é o
primeiro fármaco usado para diminuir a hiperuricemia e a Colchicina para evitar
as crises de gota. Probenecida (diminui a reabsorção de urato pelo túbulo
renal) pode ser usado se o Alopurinol não estiver fazendo muito efeito.
è Artrocentese
Artrite aguda
monoarticular com característica inflamatória é indicação absoluta para
atrocentese. Apenas não é indicado fazer a artrocentese se artrite séptica não
for provável, ou se os sinais inflamatórios forem por alguma coisa já conhecida
ou se o diagnóstico de gota já for claro. O material colhido é enviado para
contagem de células, GRAM, cultura e análise de cristais.
è Pseudogota
(artrite crônica degenerativa)
É clinicamente
idêntica à gota, tendo apenas a diferença de apresentar cristais de diidrato de
pirofosfato de cálcio no líquido sinovial. Comumente parece com uma
osteoartrite mas na radiografia os achados não são característicos. Os aspectos
que diferem a pseudogota da gota é que: (1) crises de gora like não costumam
ocorrer, (2) tem uma radiografia bem específica e (3) costuma afetar joelhos.
Diagnóstico
definitivo é feito com o achado de cristais de diidrato de pirofosfato de
cálcio no líquido sinovial. Na radiografia é classicamente achado um aspecto de
“salpicado de pontos” e calcificações lineares geralmente nas cartilagens dos
joelhos, quadril, pelve e punho. Aspectos clínicos que devem ser suspeitos para
pseudogota: (1) artrite aguda de uma grande articulação (ex: joelho) sem
apresentar hiperuricemia; (2) artrite crônica com sinais flogísticos; (3)
artrite crônica em articulações não clássicas na osteoartrite como punho,
articulação metacarpofalangeanas e ombros.
Tratamento
deve ser, primeiramente tratando doenças associadas se presentes.
Especificamente para a artrite deve ser usado como medida abortiva, AINES ou
corticosteróides intrarticulares ou Colchicina. Casos crônicos são usados
AINES.
è Artrite
séptica
É vista como
uma artrite de dor subaguda, acometendo preferencialmente joelhos, sendo também
frequentemente associada com febre baixa e dor progressiva e incapacitante.
Ocorre principalmente por infecção de Estafilococos aureus mas também por
algumas espécies de Estreptococos. Ocorre por disseminação hematogênica. É
muito comum apresentar apenas dor em uma articulação e essa já ter alguma
alteração como osteoartrite ou artrite reumatoide. Costuma afetar mais os
joelhos. Fatores importantes para serem avaliados no paciente é se o mesmo tem
febre (geralmente baixa) e se fez alguma cirurgia recentemente na articulação
ou se apresenta prótese articular e próximo do local tiver uma lesão de pele.
OBS: Ausência de febre não exclui artrite séptica!!
Diagnóstico
definitivo é feito pela cultura e pelo GRAM do líquido sinovial. Contagem de
leucócitos no líquido sinovial acima de 100 mil/mcL é um forte indicativo do
diagnóstico. No sangue a contagem de leucócitos pode estar acima de 10 mil em
50% dos casos. A hemocultura também deve ser avaliada! Paciente que apresenta uma
articulação inflamada, até que prove o contrário, ela está infectada.
Tratamento é
feito empiricamente contra Estafilococos aureus e deve ser feito uma
artrocentese. OBS: um outro agente que pode causar artrite séptica é a Neisseria
gonorrhoeae. Pela cultura, se identificar esse agente o tratamento é com
ceftriaxone 1 grama IM por dia, sendo mantido 48 horas após a melhora dos
sintomas (tratamento proposto pelo livro).
è Doença
de Lyme
É
caracterizada por diferentes estágios. Uma apresentação clássica dos sintomas
articulares é uma dor inflamatória aguda em joelho, sendo o paciente estado em
uma área endêmica da doença. Paciente vai apresentar história de picada de
carrapato ou de uma doença febril não específica. A doença de Lyme é causada
pela bactéria Borrelia burgdorferi, transmitida pelo carrapato Ixodes. São 3
estágios na doença de Lyme, (1) eritema localizado na área mordida paciente vai
apresentar sintomas inespecíficos, (2) disseminação cardíaca ou para SNC
(bloqueio AV ou meningite) e (3) acometimento articular, geralmente de joelho.
Diagnóstico
definitivo é feito com clínica, história e contagem de anticorpos. Tratamento é
feito com Doxaciclina por 4 semanas.
è Artrite
reumatoide
Classicamente
é apresentada por pacientes de meia idade, com mãos dolorosas, rígidas e
inchadas. Rigidez matinal é frequente. Articulação metacarpofalangeanas, punhos
e articulação interfalangeanas proximais inchadas e “macias” são frequentes nos
exames físicos de pacientes com artrite reumatoide. Nos exames laboratoriais
paciente pode apresentar uma anemia por doença crônica e FR positivo (fator
reumatoide) além de anti-cyclic citrullinated peptide (anti-CCP). A condição
necessária para paciente ter artrite reumatoide é apresentar uma sinovite, mais
comumente envolvendo as mãos. 1% da população apresenta artrite reumatoide,
sendo então um diagnóstico que deve ser pensado quando um paciente ADULTO
apresenta de fato algum tipo de poliartrite crônica simétrica. Portanto,
os achados mais comuns em artrite reumatoide são: (1) Artrite simétrica em
mãos, (2) Fator reumatoide positivo, (3) achados radiográficos em mãos e punhos
característicos e (4) rigidez matinal que dura 1 hora ou mais (característico de qualquer dor
inflamatória). As articulações mais acometidas são em mãos - exceto as
interfalangeanas distais - cotovelos, joelhos, tornozelos e coluna cervical.
Achados não
articulares na artrite reumatoide são, xeroftalmia, doença pulmonar (nódulos
pulmonares ou doença no interstício) e pericardite (as vezes restritiva). OBS:
anemia por doença inflamatória.
Anti – CCP
positivo tem valor preditivo positivo para diagnóstico de AR. Se somar com o
fator reumatoide o diagnóstico é quase certo. O diagnóstico definitivo é feito
segundo os critérios da ACR (American College os Rheumatology), se paciente
apresentar 4 critérios por 6 semanas ele tem o diagnóstico. (1) rigidez matinal
por pelo menos 1 hora, (2) artrite em duas articulações simultaneamente, (3)
atrite em mãos, (4) atrite simétricas, (5) nódulos reumatoides, (6) fator
reumatoide positivo e (7) alterações radiológicas típicas em mãos e punhos.
Dentre esses os que apresentam maior valor preditivo positivo são os nódulos
reumatoides e as alterações radiológicas.
O tratamento é
feito por duas vertentes, a melhora dos sintomas e a progressão da doença. Para
combater os sintomas são usados os AINES e corticoides. As “drogas
anti-reumáticas modificadoras da doença” são: Metotrexate, sulfassalazina,
hidroxicloroquina, leflunomide, etanercept e infliximab.
è Artrite
por Parvovírus
Acomete
geralmente pessoas jovens que ficam em contato com crianças (pais, professores,
educadores, babás e pediatras). Geralmente é precedido por um quadro viral
inespecífico. Quando paciente relata artralgia, geralmente haverá eritema
macular nas articulações superiores. Os sintomas geralmente não pioram com o
passar do tempo. História natural da doença é: Quadro viral inespecífico
(mialgia, febre, diarreia e mal estar) seguido por artrite e eritema
caracterizando a doença. A artrite geralmente é simétrica e costuma acometer
cotovelos, punhos, mãos, joelhos, tornozelos e pés.
Diagnóstico é
feito pela dosagem de IgM no paciente com sintomatologia sugestiva. O
tratamento é sintomático até a melhora do quadro.
è Osteoartrite
(OA)
Comumente
acomete idosos causando dor e rigidez articular. A medida que paciente
movimenta a articulação acometida, a dor piora. O descanso melhora o sintoma
álgico. Articulações mais comumente afetadas são, joelhos, quadril, mãos e
vértebras. No exame físico articular, vai haver alargamento da articulação, mas
com pouco ou nenhum sinal de inflamação. A radiografia confirma o diagnóstico.
É uma doença que tem sua prevalência diretamente proporcional ao avançar da
idade, sendo seu pico aos 80 anos. Obesidade é um fator que pode causar casos
precoces de OA. Na radiografia vai apresentar perda da cartilagem articular,
levando a diminuição do espaço articular, esclerose óssea no osso subcondral
e formação de osteófitos. Quando presente, não costuma acometer articulações
vizinhas. É restrita à articulação acometida.
Os sintomas
clássicos são: (1) dor à atividade, (2) melhora com descanso, (3) sinais
brandos de inflamação, (4) rigidez matina e (5) com a doença em fase tardia
paciente apresenta deformidades articulares, dor constante e incapacidade. Os
achados clássicos são: alargamento ósseo, crepitações, diminuição da amplitude
de movimento e ausência de sinais flogísticos ou espessamento sinovial. Em
joelho paciente pode apresentar geno varo ou valgo; em quadril a dor inicia em
movimento de rotação interna e com avançar da idade em rotação externa. Nas
mãos paciente pode dificilmente vai apresentar OA em MCP. Nódulos de Heberden
são osteófitos proeminentes na articulação interfalangeanas distal e Nódulos de
Bouchard são osteófitos proeminentes na articulação interfalangeanas proximais.
Nas vértebras paciente pode apresentar neuralgia por compressão nervosa por
crescimento de osteófitos (“bico de papagaio”)
Tratamento
pode ser não farmacológico que inclui perda de peso e atividades físicas, e a
farmacológica que é sintomática com uso de analgésicos (Dipirona ou
Paracetamol) ou AINES. Glicosaminoglicanos e Condroitin Sulfato são usados VO,
e são componentes da matriz óssea. Corticosteroides intra articular. Tramadol e
analgésicos opióides são uma opção para pacientes com dores fortes ao ponto dos
AINES não darem conta. Cirurgia para colocação de próteses.
REFERÊNCIA: Symptom to Diagnosis An Evidence-Based Guide 2nd Edition 2010
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Bom carnaval, galera!
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