Sei que a maioria está de ressaca pelo carnaval então, para "desenferrujar" a cabeça, nada melhor do que um tema que todos nós conhecemos. Pneumonia! Sim, quem nunca viu na faculdade? Impossível, né? Afinal é uma realidade frequente nas emergências e um tema comum da pneumologia. Boa leitura!
- Definição e manifestações
clínicas:
As pneumonias
são doenças inflamatórias agudas de causa infecciosa que acometem os espaços
aéreos e são causadas por vírus, fungos e/ou bactérias. A pneumonia adquirida na comunidade (PAC) se refere à
doença adquirida fora do ambiente hospitalar ou de unidades especiais de
atenção à saúde ou, ainda, que se manifesta em até 48 horas da admissão à
unidade assistencial. O diagnóstico baseia-se na presença de tosse e de alguns
sintomas de doença aguda do trato respiratório inferior como expectoração,
falta de ar e dor torácica. No exame físico do tórax, classicamente, temos
diminuição do murmúrio vesicular e presença de estertores, os quais corroboram com a presença de opacidade pulmonar nova detectada por radiografia de tórax. Dentre as manifestações
sistêmicas podem ocorrer, confusão, cefaleia, sudorese, calafrios, mialgias e
temperatura corpórea superior a 37,8°C.
- Diagnóstico radiológico
É recomendado
a realização da radiografia de tórax em incidência póstero-anterior e em perfil, pois
além de auxiliar o diagnóstico, avalia a gravidade. No entanto, sua utilização
não determina a etiologia da pneumonia nem distingue qual grupo de agente é o
causador (bactéria, vírus ou fungos). A resolução radiológica ocorre de maneira
lenta, depois da recuperação clínica, podendo levar de duas semanas a até seis
semanas. Doenças de base, como DPOC, diabetes alcoolismo e etc., podem adiar
essa melhora.
·
O uso da TC de tórax é útil quando há dúvida
sobre a presença ou não de infiltrado radiológico, na presença de um quadro
clínico exuberante associado à radiografia normal, na detecção de complicações,
tais como derrame pleural loculado e abscesso ainda não aberto nas vias aéreas,
assim como para diferenciar infiltrado pneumônico de massas pulmonares.
·
A Ultrassonografia é útil nos casos de derrame
pleural de pequeno volume ou quando suspeitos de loculação, permitindo a sua
localização precisa para a coleta do líquido pleural.
·
A progressão radiológica após a admissão pode
ocorrer com qualquer etiologia e não deve ser um indicativo único e definitivo
de mudança no regime terapêutico, pois pode estar havendo melhora no quadro
clínico concomitantemente.
- Exames complementares
Ureia sérica
acima de 65 mg/dl constitui forte indicador de gravidade. O hemograma tem baixa
sensibilidade e especificidade, sendo útil como critério de gravidade e de
resposta terapêutica. Leucopenia menor que 4 mil leucócitos/mm³ denota mau
prognóstico. Dosagem de glicemia, eletrólitos e de transaminases não tem valor
diagnóstico, mas podem influenciar na decisão da hospitalização devido à
identificação de doenças associadas.
·
Proteína
C reativa apresenta níveis elevados após 3 – 4 dias de tratamento e uma
redução inferior a 50 % do valor inicial sugere pior prognóstico ou surgimento
de complicações.
·
Procalcitonina
é também um marcador de atividade inflamatória detectado pelo ELISA, sendo
então menos sensível.
- Investigação etiológica
Tem um
rendimento baixo e são desnecessários em pacientes ambulatoriais, tendo em
vista a eficácia elevada do tratamento empírico e a baixa mortalidade associada
a estes casos. Já nos casos de PAC grave, com falência do tratamento empírico,
a identificação etiológica e o tratamento direcionado associam-se a menor
mortalidade.
·
Exame do
escarro só é realizado quando há suspeita de tuberculose (segundo normas da
TB)
·
Hemocultura
deve ser coletada antes da administração do antibiótico ou da modificação
do tratamento e não deve retardar a administração da primeira dose de
antibiótico.
·
Testes
sorológicos são feitos na suspeita de Mycoplasma, Coxiella, Chlamydophila e
Legionella, assim como vírus.
·
Antígenos
urinários são exames simples, rápidos e não influenciáveis pelo uso de
antibióticos. São usados para Legionella pneumophila e Stafilococos pneumoniae.
- Classificação da gravidade e
escolha do local de tratamento
A gravidade da
PAC que determinará o local de tratamento. Fatores sociais e econômicos devem
ser levados em consideração nesta decisão. Escore para avaliar a gravidade
abrange características demográficas, alterações laboratoriais, alterações
radiológicas e achados do exame físico. Confusão mental, ureia (maior que 50
mg/dl), frequência respiratória maior ou igual a 30 irpm, pressão arterial
sistólica menor que 90 mmHg ou pressão arterial diastólica menor ou igual a 60
mmHg e idade maior ou igual a 65 anos (CURB-65). Nesse escore cada variável representa 1 ponto, e isso
determinará o local em que o paciente receberá o tratamento. (Figura 1) Sua maior
limitação é a não inclusão de doenças associadas como alcoolismo, IC e
hepática, além de neoplasias.
Figura 1.
·
Sua utilização, a partir do descrito acima, é
validada quando o paciente NÃO apresenta indicação socioeconômica, doenças
associadas descompensadas, hipoxemia e impossibilidade de ingestão oral de
medicamentos.
- Diagnóstico de PAC grave
É feito a
partir de critérios¹, sendo que a presença de um critério maior ou dois
critérios menores indicam a necessidade de tratamento em UTI.
¹critérios maiores: Choque
séptico necessitando de vasopressores; insuficiência respiratória aguda com
indicação de ventilação mecânica.
¹critérios menores: hipotensão
arterial; relação PaO²/FiO² menor do que 250; presença de infiltrados
multilobulares.
- Tratamento
No ambiente
laboratorial, pode haver duas possibilidades: No paciente hígido usar
amoxicilina (Beta-lactâmico) ou macrolídeo. No paciente com doenças associadas
usar quinolonas ou Beta-lactâmico e macrolídeo. Em pacientes internados NÃO
grave usa-se quinolona ou Beta-lactâmico mais macrolídeo. Em pacientes
admitidos em UTI também haverá duas situações: paciente sem risco de
pseudômonas sp. Beta-lactâmico mais quinolona ou macrolídeo, já no paciente
admitido em UTI com risco de pseudômonas sp. Beta-lactâmico
(piperacilina/tazobactam ou cefepime ou imipenem ou meropenem) e quinolona
(ciprofloxacina ou levofloxacina).
O tratamento para adultos com PAC
de leve a moderada podem ser tratados com antibioticoterapia por um período igual
ou inferior a 7 dias.
Não existem evidências que
afirmem o potencial da quinolona ser superior ao Beta-lactâmico e a terapia
combinada não é superior à monoterapia em pacientes de baixo risco. No caso de
PAC grave a terapia combinada deve ser recomendada, podendo ampliar o espectro
para as bactérias atípicas.
REFERÊNCIA: Diretrizes Brasileiras para Pneumonia Adquirida na Comunidade em adultos imunocompetentes, J Bras Pneumol. 2009;35(6):574-601
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