E aí galera,
beleza? Complementando um antigo post sobre "Estratificando o risco cardiovascular na dislipidemia" (se você não leu, ainda dá tempo!), segue um
resumo sobre os fármacos usados no controle da dislipidemia! Boa leitura!
São 3 classes,
inibidores da HMG – CoA redutase, resina de ligação aos ácidos biliares, ácido
nicotínico, derivados do ácido fíbrico e inibidor de absorção do colesterol.
Abaixo vou comentar sobre cada uma dessas classes separadamente, e no final um “resumo
clínico”.
·
Estatinas
São os
inibidores competitivos da HMG – CoA redutase. Esse mecanismo de ação causa uma
ação secundária no hepatócito, que é o aumento dos receptores de LDL-C
em sua superfície. Portanto há maior captação do LDL-C do sangue em direção ao
fígado e com isso sua quantidade sérica é diminuída.
Seu efeito
mais perceptível é a diminuição dos níveis do LDL-C, sendo um efeito dose
dependente. Existem várias estatinas, sendo a principal diferença entre elas a
sua eficácia, portanto segue uma tabela mostrando a dose equivalente entre as
estatinas em relação a sua eficácia na redução do LDL-C (figura 1). Em relação
ao HDL-C não foi documentado efeito significativo e em relação a
hipertrigliceridemia só foi documentada diminuição se paciente apresentasse
valor maior que 250 mg/dL.
FIGURA 1
Outros efeitos
das estatinas são: melhora da função endotelial (vasoconstricção/relaxamento),
estabilidade das placas ateroscleróticas (inibe secreção de metaloproteinases pelos
macrófagos), diminuem os níveis da proteína C reativa e diminuição dos eventos
tromboembólicos (medicina baseada em evidência).
A forma de
administração é dependente da síntese hepática de colesterol e da meia vida da
estatina. Como a síntese é máxima pelo período noturno e a meia vida das
estatinas (exceto atorvastatina e rosuvastatina) é de 4 horas, o ideal é sua
administração à noite. Tanto a atorvastatina quanto a rosuvastatina podem ser
tomadas em qualquer período do dia.
Hepatotoxicidade
e miopatia são efeitos adversos que devemos ter cuidado, sendo o segundo o mais
associado ao uso de estatinas. A primeira coisa importante para sabermos sobre
a miopatia é que seu risco é dose dependente e concentração plasmática
dependente, ou seja, se o paciente ingerir doses elevadas ou tiver algum fator
que aumente a concentração da estatina no sangue, vai aumentar a chance de
causar miopatia ou até rabdomiólise! Portanto se paciente estiver em uso de
fibratos (genfibrozila, principalmente), ciclosporinas, digoxina, varfarina,
macrolídeos, antifúngicos, inibidores da protease e amiodarona o risco passa a
aumentar, pois todos esses fármacos diminuem o catabolismo das estatinas. Sendo
assim, para identificar possíveis efeitos adversos recomenda-se a dosagem dos
níveis basais de creatinofosfoquinase (CK) e de transaminases antes de iniciar
o fármaco e sua repetição na primeira avaliação ou a cada aumento de dose. As
estatinas devem ser suspensas caso ocorra um ou mais dos seguintes critérios:
aumento progressivo da CK; aumento da CK acima de 10 vezes o LSN (limite
superior normal) ou persistência dos sintomas musculares. Nestas situações,
após normalização do distúrbio que levou à suspensão a mesma estatina com dose
menor pode ser reiniciada ou outra estatina pode ser tentada. Se houver
evidências de hepatotoxicidade (icterícia, hepatomegalia, aumento de
bilirrubina direta e do tempo de protrombina – dois ou mais), recomenda-se a
suspensão da estatina e pesquisa da etiologia. A elevação de 1 a 3 vezes do LSN
das transaminases em pacientes assintomáticos não justifica a suspensão da
estatina.
·
Resinas de ligação (sequestradores) de ácidos
biliares
Como o nome já
diz, seu mecanismo de ação é se ligar ao ácido biliar na luz intestinal,
impedindo sua (re)absorção e levando a maior excreção pelas fezes. Com esse
mecanismo (assim como acontece com as estatinas) há maior produção de
receptores de LDL-C pelos hepatócitos e com isso sua captação do sangue é
maior. No entanto, esse mecanismo diminui os níveis de bile, causando maior
produção pelo fígado. Esse metabolismo hepático acelerado, causa indiretamente,
aumento do triglicerídeo e portanto em pacientes com hipertrigliceridemia grave
o uso dos sequestrados de ácidos biliares está contra indicado.
Existem 3
fármacos que representam essa classe, a colestiramina, colestipol e o
colesevelam. Os dois primeiros estão disponíveis em forma de suspensão e o
terceiro tem apresentação em comprimido sólido. Os principais efeitos adversos
são dispepsia, distensão abdominal e constipação. Lembrando que pode haver aumento
dos triglicerídeos.
Como é um
fármaco que altera a absorção intestinal é prudente administrar qualquer outro
fármaco, uma hora antes ou 3 horas após o uso da resina!
·
Ácido nicotínico (Niacina)
É o melhor
fármaco capaz de aumentar o HDL-C, além de reduzir triglicerídeos (equivalente
as estatinas mais potentes) e o LDL-C em 20% - 30%. Seu mecanismo de ação
ocorre em dois locais paralelamente. Ele diminui a produção hepática de
triglicerídeos e com isso diminui os níveis de LDL-C e também diminui a
depuração da apoA – 1 (componente proteico do HDL-C).
Vendo todos
esses efeitos, vocês pensaram: “Por que nunca receitei isso no ambulatório?!”
Eu sei, também pensei... Mas aqui está a resposta! Seus efeitos adversos: os
mais comuns são, hipertrigliceridemia e hepatotoxicidade “grave”. O uso da
niacina em pacientes com diabetes melito está relacionado ao uso de insulino terapia,
e portanto o controle glicêmico é fundamental, até percebermos que houve uma
estabilidade. Deve ser feito também, monitorização dos níveis das transaminases
e da albumina sérica. Paciente também pode apresentar rubor (dose dependente) e
até acantose nigricans, além de causar reativação da gota. Seu uso é contra
indicado em grávidas.
·
Derivados do ácido fíbrico (ativadores do PPAR)
Os fibratos,
ao ativarem o PPAR, diminuem a transcrição do gene responsável pela proteína
inibidora da depuração das lipoproteínas ricas em triglicerídeos. Como há perda
acentuada dessa lipoproteína, de forma compensatória, ocorre aumento do HDL-C
(nessa hora vale lembrar que o HDL-C na verdade é uma lipoproteína e não o “colesterol
bom”).
Os principais
fibratos são, Clofibrato, Genfibrozila e o Fenofibrato. Em geral são os
fármacos de escolha no tratamento da hipertrigliceridemia grave e na síndrome
de quilomicronemia. São administrados durante as refeições e suas meia-vidas
diferem amplamente. Por apresentar grande excreção renal, seu uso é contra
indicado em pacientes com insuficiência renal.
Os efeitos
adversos mais comuns são litíase biliar (colelitíase) e em associação com
estatina aumenta o risco de miopatia. Além desses dois, pode haver aumento
significativo do LDL-C sérico (ou você pensou que a medicina é linda e seria
seletivo para o HDL-C?). Seu uso é contra indicado para as gestantes.
·
Inibidor de absorção do colesterol
Seu mecanismo de ação é idêntico aos inibidores dos ácidos biliares, a
diferença é que nesse caso o colesterol (pasmem!) que não é absorvido pela luz intestinal.
Essa classe é representada pelo Ezetimiba. Esse mecanismo de ação, por reduzir
a absorção de colesterol, leva a maior produção hepática e por isso muitas
vezes associando a uma estatina seus efeitos chegam a reduzir até 80% do LDL-C!
Não há relato de melhora significativa nos níveis de HDL-C e triglicerídeos.
Está apresentado na forma de comprimido de 10 mg, e pode ser tomado a qualquer
hora durante o dia, com ou sem alimento. Não há relato de efeitos adversos. Apenas
seu uso não pode ser associado com os sequestradores de ácidos biliares, pois
eles diminuem sua absorção intestinal.
·
Resumo clínico
(1) Mudança
do estilo de vida (MEV) é a base do tratamento da dislipidemia.
(2) As
estatinas são a primeira linha na terapia farmacológica.
(3) A
dose inicial da estatina deve ser adequada para reduzir até a meta terapêutica (ver
dose na figura 1)
(4) A
dose da estatina, associada a resina ou a fibratos, deve ser menor que 25% de
sua dose máxima.
REFERÊNCIA: As bases
Farmacológicas da Terapêutica de Goodman & Gilman, 12ª edição
V Diretriz Brasileira de
Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose Arq Bras Cardiol. 2013;
101(4Supl.1): 1-22
Lembrando que metas e indicação farmacológica estão no post sobre “Estratificando o risco cardiovascular na dislipidemia”
Espero
que tenham gostado. Qualquer dúvida ou informação adicional é só comentar
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Até
a próxima, galera!
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